sábado, 28 de julho de 2007

Edward Hopper

Hopper em Paris, 1907


O texto a seguir foi baseados no trabalho de Felipe Soeiro Chaimovich, publicado na revista VOGUE BRASIL nº 229, de 1996, cuja chamada é:

A solidão iluminada de Edward Hopper(1882/1967)



Não há sorrisos em suas
figuras. Seres humanos que
não se comunicam.
Pessoas sentadas em bares,
varandas, mostram a face
melancólica dos americanos.


A luz, um elemento sempre presente na paisagem dos Estados Unidos, não é suficiente para "aquecer" as figuras de Hopper, o pintor da esquisofrenia moderna.
De um lado, o progresso característico das cidades na primeira metade do séc. 20, enchendo esquinas com letreiros e luminosos, de outro, como coadjuvantes do progresso, as pessoas abandonadas à solidão. Exatamente esta separação entre o progresso e os humanos é o cenário do qual Hopper foi o mestre.

" A grande arte é a expressão exterior da vida íntima de um artista, e esta vida íntima resultará na sua visão pessoal sobre o mundo", ele escreveu em 1953. "A vida íntima de uma pessoa é um vasto e variado domínio que não é afetado com estímulos de cor, forma e design".




Um pouco de sua vida:
Em 1900 Hopper matriculou-se na New York School of Art onde estudou pintura com seriedade por seis anos, com os melhores professores da época. Um deles em especial, lhe influenciou fazendo-o interessar-se pela arte francesa, particularmente pelos Impressionistas.
Em Paris estudou a luz e arquitetura da cidade como um impressionista. Ao voltar à América começou a criar telas inspiradas na realidade que via. Sua matéria-prima é o modo de vida circundante: os EEUU de antes da Segunda Guerra Mundial - um país encurralado entre o progresso e a recessão da década de 30, entre os valores puritanos do interior e a desumanização urbana.
Hopper viveu uma vida tranqüila em Myck, cidade às margens do rio Hudson, com sua mulher Josephine, também pintora, a quem deve as primeiras críticas ao seus trabalhos feitos em 1923.


Algumas obras:


Automat, 1927
Já no título, a crítica implícita à sociedade que produz autômatos: uma mulher sentada à mesa, tomando uma xícara de café ( provavelmente ralo e requentado) está toda iluminada por uma luz abrangente, embora fria. Nada parece poder estabelecer contato com ela, habitante de uma metrópole cheia de carros que a ignora. Uma nação automatizada parece povoar o imaginário de Hopper.


Drugstore (1927)

Chop Suey (1929)



Hotel room (1931)



Room in New York (1932)





Nighthawaks (1942)




Sunlight in a Cafeteria (1958)


People in the Sun (1960)


A luz dento dos quadros é fria: por mais que as figuras humanas tentem se aquecer, sempre parecem estar sob um sol de néon. Insistem, no entanto, em ficar expostas, exforçando-se com a cara virada diretamente para a fonte virtual de calor. Elas parecem dotadas de um frio inesgotável, que tentam em vão combater pois não são pessoas: são corpos invadidos pelo progresso. São, na verdade, autômatos.

Outra abordagem interessante sobre Hopper é feita na VEJAOnline, do dia 22 de janeiro de 2007 por Reinaldo Azevedo em:

http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo/avesso/2007/01/edward-hopper.html

Mais sobre a obra de Hopper clicando

aqui

e

Obvious



quarta-feira, 25 de julho de 2007

Quando falei sobre as esculturas de Bernini - as minhas preferidas - esqueci de fazer um registro especial:

VITÓRIA DE SAMOTRÁCIA
- a mulher alada -

Tenho uma fascinação especial por esta misteriosa escultura. Muito maior do que pela famosa Vênus de Milo e certamente quando eu for a Paris, vou ao Louvre, onde ela está em lugar de destaque numa das escadarias, para conhecê-la pessoalmente.
Ela representa a deusa Atena Niké (Atena que traz a vitória), cujos pedaços foram descobertos em 1863 nas ruinas do Santuário dos grandes deuses da Samotrácia, na ilha do mesmo nome, no Mar Egeu. Fazia parte de uma fonte, com a forma de proa de embarcação, em pedra calcárea, doada ao santuário provavelmente pela cidade de Rodes. Em grego, o seu nome é Niki tis Samothrakis (Νίκη της Σαμοθράκης).
Foi criada por volta de 190 a.C (período helenístico) e possui 3,28 metros de altura.
Mas, afinal, quem foi Samotracia?
Conta a história que um escultor grego, sem muita fama e com um currículo artístico minguado, teria sido o criador desta mulher alada, tida como "a beleza em velocidade", uma obra-prima da época helenística. Para exaltar a originalidade de seu estilo e a imponência de sua forma, foi decidido que a criação de Pythocrito de Rhodes deveria ficar em um local que chamasse a atenção, preferencialmente bem no alto, no topo de algo, olhando para o mar aberto. E assim foi feito... A mulher alada foi colocada na proa de um navio, indicando a vitória de Rhodes sobre Antiochus III (222-187 B.C.). Esta era uma maneira comum dos gregos expressarem sua homenagem aos heróis de guerra. A Vitória de Samotracia foi concebida através da união de seis blocos de mármore, uma tradição da escultura grega, que costumava utilizar diferentes pedaços de pedra para esculpir suas obras de arte. Depois de séculos, ela acabou sendo descoberta por Charles Champoiseau, arqueologista e cônsul francês em Adrianople, em uma colina na Ilha de Samotracia, daí a razão de seu nome. Destruída pelo revezar do tempo, o arqueologista a encontrou fragmentada em 118 pedaços. A estátua só foi remontada no próprio Museu do Louvre, quando por lá aportou em 1864. No entanto, um dos mistérios que rodeiam Samotracia nunca foi solucionado: sua cabeça parece ter se perdido para sempre. Ainda nos dias atuais, ela é tida como uma das maiores expressões de arte da Era Helenística.

Para refrescar a memória, a Era Helenística marcou a transição da civilização grega para a romana. Convencionou-se chamar de civilização helenística aquela que se desenvolveu fora da Grécia. Esse período histórico situa-se entre 323 a.C., data da morte de Alexandre III (Alexandre, o Grande), e 30 a.C., quando se deu a conquista do Egito pelos romanos.


(réplica exposta no MNBA)


No Museu Nacional de Belas Artes (MNBA) do Rio de Janeiro, existe uma das últimas moldagens/replica da imagem feita em gesso e que pode ser vista pelos visitantes.

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E para quem é fashionista, uma informação adicional: a grife mineira Alphorria, inspirou-se nesta famosa obra quando lançou sua coleção primavera-verão 2003-2004, conforme o texto abaixo que tentei lincar mas não consegui. (não lembro mais como se digita as famosas tags de html)
Este é o endereço:
http://www.assuntodemodelo.com.br/Noticias_Det.asp?Cod=7&id=219

"A Vitória de Samotrácia, uma das mais famosas obras do Museu do Louvre, inspirou a coleção primavera-verão 2003-2004 da Alphorria. Conhecida como Deusa da Vitória pelos gregos, ela foi encontrada, no Mar Egeu, na ilha de mesmo nome, em 1863, em forma de fragmentos de mármore, que depois foram restaurados em Paris.

A Alphorria encontrou identidade nessa escultura alada, feminina, com vestes transparentes e cintura definida. Imagem da mulher idealizada pela marca, ela inspira os panejamentos, os drapês e as moulages criadas para a coleção.

A partir das formas da Vitória de Samotrácia, a coleção entra no universo das asas, explorando também asas de borboletas, asas de pássaros, asas de avião. Os corsets são o fio condutor do desfile e suas amarrações estão presentes em tops, vestidos, cintos. A linha da cintura ganha destaque, assim como os ombros e o busto, realçado em bojos estruturados. A silhueta feminina é marcada por barbatanas inspiradas nos esboços deixados por Leonardo da Vinci, um grande estudioso dos objetos voadores.

As costuras em relevo lembram os veios de asas e os babados em casacos e saias também remetem a esse movimento. O jacquard navalhado, no mesmo espírito, é valorizado por bordados em contas e pedrarias. O plissê compõe panejamentos e volumes. A atmosfera é sempre sexy e feminina.

Vestidos longos fecham o desfile deixando o corpo à mostra: suas formas vazadas destacam a cintura. Os comprimentos vão do mini ao longo, passando pelos joelhos e a cartela de cores destaca o branco, jade, jade claro, violeta, preto, romã e romã claro.

Musseline de seda, cetim stretch, acetinado stretch, algodão lycra, jérsei, musseline de malha, tule e cetim de seda são os tecidos usados pela Alphorria nessa coleção".

De nada, às ordens!

terça-feira, 24 de julho de 2007


O tema foi A ARTE NO CINEMA e lá me fui eu puxar os fios da minha memória cinematográfica. Lembrei de três filmes:

1) A garota do brinco de pérola (Girl with a Pearl Earring)





Aborda uma determinada época da vida do pintor holandês Jan Vermeer (1632-1675) em que Scarlett Johansson é a tal garota. Belíssima, diga-se de passagem. Estou postando a tela de Vermeer.
A de Scarlet, interpretando a própria, vocês podem ver clicando
aqui

Chegando lá, clicar no item 19.
Comparem as duas fotos. Impressionate a semelhança!


Os dois filmes seguintes, considero especiais não pelo filme em si, mas porque o tema é lembrado subliminarmente, como podem ver a seguir:


2)
The Thomas Crown Affair


Neste, o deus grego Pierce Brosnan, interpreta um milionário entediado que rouba quadros de pintores famosos. No caso, Monet. Não vou contar a história pois o objetivo aqui é outro. No final, quando ele resolve devolver o quadro roubado ao museu ele - Thomas/Pierce - se movimenta pelo cenário, fazendo uma alegoria ao trabalho de René Magritte (1898-1967), pintor belga Surrealista que dizia: "eu faço uso da pintura para tornar os pensamentos visíveis." Thomas Crown anda pelo museu vestido tal qual o tema recorrente nas telas de Magrite: vestindo terno escuro e usando chapéu-côco. Até a gravata vermelha não foi esquecida... Este personagem se multiplica pois é a maneira dele driblar a vigilância, deixando o interior do museu tomado pelos "homens de chapéu-côco" de Magritte. Quem não se interessa por arte, estes detalhes passam batidos. A menção é, portanto, subliminar.

Tela:
Le fils de l'homme de René Magritte



3) O Dragão Vermelho - (The Red Dragon)

Este filme me impressionou exatamente pela habilidade dos roteiristas ( sei lá se são eles que fazem isto) de embutirem a "fatia" arte na história. Nela, outro dos meus queridinhos - Ralpf Fiennes - interpreta o maníaco Tooth Fairy, obcecado por tatuagens e famoso por seus crimes cometidos com requintes de crueldade. É um personagem que inspira compaixão no expectador pois ele é atormentado por uma auto-estima distorcida e pretende (na sua loucura), transformar-se em um dragão. Este dragão é inspirado no Dragão Vermelho de William Blake, que é, assim, lembrado subliminarmente também...

Foto:
Fiennes, interpretando o tatuado Tooth Fairy



William Blake (1757-1827) foi um dos primeiros grandes poetas Romanticos ingleses. Foi também pintor, impressor e um dos maiores gravadores da história inglesa. Seus trabalhos poéticos foram todos ilustrados por ele mesmo e, segundo consta, sua mulher o auxiliava neste trabalho. Sua obra é impressionante: apocalíptica, assustadora e profética. Como todo grande criador, foi um gênio incompreendido na sua época. Uma voz solitária contra a marcha da ciência e da razão. Talvez por isto tenha sido considerado um lunático pelos seus contemporâneos. Mas sua obra vale a pena ser vista.

Tela:
The Red Dragon, de William Blake
(uma das versões. Existem outras, mais horripilantes...)



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Álvaro, parceiro da Confraria, propôs que cada um de nós -
os loucos por arte - procurasse, no número sem-fim de obras de arte criadas pelos mestres da pintura, duas ou mais delas que lembrassem outra, criada por outro artista. Tema, cores e disposição dos elementos na tela.
Well...
minha contribuição vai ser obra dos cubistas Andre Lothe(1885-1962) e Pablo Picasso(1881-1973).
Lothe, para os menos interessados em arte, deve ser um ilustre desconhecido se comparado ao badaladíssimo Picasso. Ele sempre é mais lembrado como mestre do que pintor.Mas se formos estudar a biografia da grande maioria dos pintores da época, veremos todos procuraram Lothe para aprender com ele.
Até Tarsila do Amaral, nossa dama antropofágica, foi uma de suas pupilas quando ela se foi para Europa para aprender com os mestres e em conseqüência disto executou trabalhos com influência visível dessa sua convivência com os Cubistas.



Picasso e Françoise Gilot (que também era pintora) na praia de Golfe-Juan, em 1948. Françoise foi a 3ª mulher de Picasso e é ela a mãe de Paloma Picasso.
(acho linda esta foto...)




André Lothe






Les Demoiselles d'Avignon, Picasso terminou no verão de 1907, iniciado muitos meses antes e que causou uma estupefação geral mesmo entre os amigos do pintor. O pintor Georges Braque, amigo recente de Picasso chegou a dizer: "É como se você quisesse nos nos obrigar a comer estopa ou beber óleo!". Quase seis metros quadrados de tela, centenas de desenhos e estudos preparatórios é considerado pelos historiadores de arte como o ponto de partida de toda a arte moderna. Pela primeira vez, um pintor ousa romper com a verossimilhança e cria um universo pictórico.


Esta tela, cuja data e título não encontrei (ainda) é obra de Lothe. Aliás, estou pedindo ajuda. Quem quiser me acompanhar na busca de mais informações...
Mas, não querendo desmerecer absolutamente a importância deste mestre, acho que foi inspirada na "demoiselles" de Picasso.
Busquei na rede alguma informação sobre as obras de Lothe mas não encontrei sobre esta, especificamente. Como coleciono gravuras, reportagens sobre arte há muito, encontrei nos meus "guardados" esta tela. Somente com o nome do autor. Putz!!!!Semelhanças com a famosa Demoiselles, são visíveis para qualquer que compare as duas obras. Resta saber qual delas foi feita em primeiro lugar.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Gian Lorenzo Bernini


Bernini, auto-retrato


34 anos após a morte de um gênio italiano - Michelangelo(1475/1564) - nascia em Nápolis, no seio de uma família florentina, outro artista genial: Bernini, cujo pai, Pietro, também era escultor.
Quando morreu em 1680, senil e em transe mítico, seu monumental legado já era alvo de críticas.



"É difícil imaginar uma cidade que deva tanto de sua personalidade a um artista quanto Roma deve a Gian Lorenzo Bernini. Por setenta anos e sob o reinado de oito papas, o escultor, arquiteto e urbanista Bernini, construiu igrejas, monumentos, palácios, fontes e praças no cenário da Roma pontífica. Foi também autor teatral e de engenhosos cenários para teatro. Quando iniciou o reinado de Urbano VIII em 1623, Bernini foi nomeado seu arquiteto oficial, abrindo-lhe a oportunidade de exercer sobre Roma todo o seu talento. Para superar as crises nos Estados da Igreja, o Papa usava a Inquisição como ponta de lança da Contra-Reforma e o mecenato como arma política "A imagem da Divina Providência passou a coincidir com a providência do poder", diz o escritor Maurizio Calvesi, " e ambas eram exaltadas juntas em obras que mudavam o perfil de Roma" A Bernini cabia oferecer ao povo "uma prova terrena do gáudio paradisíaco".






Desta forma o artista se superou em várias obras. Na minha modesta opinião, foi na construção da famosa Colunata da Praça de São Pedro, uma espécie de manifesto barroco sobre o uso do espaço urbano que ele impôs sua genialidade para sempre .

"A colunata não é um simples pórtico para ingressar na igreja mas a expansão visível da própria igreja na cidade. No seu amplo abraço simbólico, ela estabelece a comunhão entre a igreja triunfante - os santos que ornam o teto - e a igreja militante - a multidão de fiéis na praça. Para construí-la, o arquiteto teve que resolver dois problemas: o teorema da colunata quádrupla em curva com truques de perspectiva, e a conciliação com a basílica, o obelisco egípcio no centro e os palácios renacentistas em volta".


Outras duas criações de Bernini que vou citar aqui:


os anjos da ponte Elio, Ponte dos Anjos, atual Ponte San'Angelo. Ela foi construída pouco depois de Urbano VIII ter obrigado a Galileu a abjurar suas descobertas.
Ponte dos Anjos





Fonte dos Rios, na Piazza Navona

Nessa, a teatralidade berniniana atinge seu objetivo declarado de maravilhar o expectador: o obelisco plantado no mármore parece flutuar sobre as águas. Representa os quatro continentes atravessados pelos seus quatro maiores rios: O Danúbio pela Europa, o Nilo pela África, o Ganges pela Ásia e o Rio da Prata pela América.



Fontain of the Moor - tb. na Piazza Navona/Roma

Fontana del Tritone - Piazza Barberini/Roma


Well...
Agora, o mais genial das obras de Bernini:

Personagens da Mitologia e bíblicos

1) Rapto de Proserpina(1621-22)
Galleria Borghese - Roma)


Aos 24 anos de idade, Bernini esculpe em mármore a cena mitológica do Rapto de Proserpina (ou Perséfone)




(Detalhe da escultura. Não parecem modelos posando para uma foto??? Gênio é gênio!)





2) Apolo e Daphne (1622/25)
em mármore Carrara - Galleria Borghese)





"Um pequeno balé cheio de de melancolia que mostra Daphne em fuga, metamorfoseando-se em ramos de louros. Temos aí um exemplo de como se pode trnsformar o mármore em algo fluido e etéreo fato que iria fazer de Bernini talvez o maior técnico em entalhe em mármore que já existiu".


(detalhe)




3) David
(1623-24)
Galleria Borghese - Roma
Feito na época "juvenil" de Bernini e ele foi o seu próprio modelo
(Detalhe)






4) Netuno e Triton (1620)
(Victoria and Albert Museum - Londres)






5) A Faun teased by children (1616-17)
Está no MOMA - Nova York

Obs.:
Os textos que aparecem grifados são de autoria de Marco Antônio de Resende, numa reportagem publicada na revista VEJA, de 1o de dezembro de 1980, quando Roma comemorava o tricentenário de Bernini.