terça-feira, 25 de setembro de 2007

René Magritte

















Aliás, já mencionei Magritte aqui quando falei sobre o filme The Thomas Crown affair.
A próxima postagem vai tratar, portanto sobre Magritte, que disse:

"tudo quanto vemos esconde outra coisa; adoraríamos ver
o que aquilo que vemos esconde de nós..."


Baseado no livro
MAGRITTE, de Marcel Paquet, da coleção TASCHEN


(O Império das Luzes)


O trabalho de Magritte foi caracterizado por uma profunda sensibilidade a tudo que foge à compreensão. Um mistério inerente aos objetos do mundo, esse mistério que pertence a todos e a nenhum. Depressa se torna claro para quem observa a obra de Magritte que os elementos apresentam entre si um contraste agudo, causando um choque na mente do espectador, convidando-o a pensar. Seu quadro O Império das Luzes, segundo Marcel, talvez seu quadro mais famoso, onde há simultaneidade da noite e do dia torna esta afirmação clara.






(A chave de vidro)

(Perspicácia)


(Reprodução Proibida)

Um contraste diferente predomina no quadro A chave de vidro onde uma rocha paira no ar, contrastando entre o peso da pedra e a leveza que apresenta no quadro: o peso da pedra não se pode conciliar com a leveza que o quadro lhe atribui. Segundo Magritte, a realidade pode ser mudada e ser-lhe dada uma manifestação diferente no quadro; do mesmo modo, o artista pode dar às coisas uma lógica tal, que contradiga as leis da percepção comum. Magritte jogava interminavelmente com esta possibilidade de divergir da realidade. Retratava simultaneamente uma realidade de uma forma infiel - pintando o dia à noite; pintando um pássaro a partir de um modelo a sua frente, apesar do modelo ser apenas um ovo (Perspicácia) ou um espelho em que estão refletidas as costas de um homem que está de frente para ele mesmo (Reprodução Proibida).


Outra constante na obra de Magritte é a inverção ou fusão das visões de interior e exterior, ou de posições opostas ou extremas, fazendo um jogo de virar do avesso, nos perguntando o que está dentro e o que está fora. No Espelho falso o olho humano, superdimencionado, ao invés de proporcionar uma visão do que está por dentro, na alma do homem, reflete o que está fora - um céu com nuvens.














(O Espelho falso - 1935)



Da mesma forma, na tela Elogio da Dialética (uma homenagem de Magritte a Hegel) há esta fusão de interior e exterior.
(O Elogio da Dialética - 1936)



Ainda mecionando Hegel pois Magritte lia, além deste, as obras de Heidegger, Foucault, Nietzche e Platão, também a tela a seguir, chamado pelo próprio autor de As Férias de Hegel,
nos mostra sua predileção aos pensadores. Hegel foi o expoente da dialética filosófica e é outra vez inspiração do artista. Ele mesmo diz sobre o trabalho: "Pensava que Hegel... teria sido muito sensível a este objeto que tem duas funções opostas: ao mesmo tempo, não admitir água (repelir) e admitir (conter). Ele teria ficado satisfeito, creio , ou divertido (como se estivesse de férias) e chamei ao quadro As Férias de Hegel".
A ênfase na obra de Magritte parece estar sempre ligada a estimular o pensamento. É uma pintura para filósofos ou, pelo menos, para apreciadores do pensamento filosófico. Era um pintor de idéias, um pintor de pensamentos visíveis, mais do que de assuntos.
(Férias de Hegel 1958)



O improvável dentro do visual de Magritte

A tela - A Página em branco - uma homenagem de Magritte a Mallarmé que havia escrito sobre a impossibilidade de escrever numa página em branco, a Lua está numa posição inverossímel: na frente e não atrás das folhas.



Sobre a tela seguinte - Carta Branca, Magritte diz:
"Coisas visíveis podem ser invisíveis. Se alguém cavalga por um bosque, a princípio o vemos, depois não, contudo sabemos que está lá. A amazona oculta as árvores e estas ocultam-na também. Todavia os nossos poderes de pensamento abrangem tanto o visível quanto o invisível - eu faço uso da pintura para tornar os pensamentos visíveis".



Na próxima tela, nem o homem alado nem o leão têm a ver com a ponte. Parecem encarar a melancolia daqueles que sabem que a verdadeira vida está sempre em parte alguma, é coisa que não existe. Outra metáfora de Magritte que parece nos dizer que assim como o leão está num ambiente que não lhe pertence, também o homem ao seu lado de asas fechadas parecem sonhar melancolicamente em fugir, voar para outro lugar, fugindo da prisão que o mundo representa.
A este, Magritte deu o nome de A Saudade.




















A tela abaixo Magritte deu o nome de O Modelo Vermelho ( Modèle Rouge) e falou o seguinte sobre:
"o problema dos sapatos demonstra quanto as coisas mais assustadoras podem ser feitas para parecerem inofensivas através do poder da negligência. Aqui sente-se que a união do pé humano com um sapato se baseia afinal num monstruoso hábito".





No Jóquei Perdido, feito em 1948, o surreal está nas árvores que surgem como folhas esquematizadas.

Um tema recorrente na obra de Magritte

(homens com chapéu-côco)


















(Golconda - 1953)

Sobre esta tela o próprio Magritte diz:
"Há aqui um multidão de homens, homens diferentes. Quando pensamos numa multidão, contudo, não pensamos num indivíduo: do mesmo modo, estes homens estão vestidos de igual, tão simplesmente quanto possível, para sugerirem uma multidão... Golconda foi uma rica cidade da Índia, uma maravilha. Acho uma maravilha poder caminhar pelo céu na terra. Por outro lado o chapéu-côco não constitui surpresa - é um antigo complemento, nada original. O homem de chapé-côco é o Sr. Normal, no seu anonimato. Eu também uso um; não tenho vontade de me destacar das massas".




( O Mês da Vindima - 1959)

Também aqui, como em Golconda, aparecem os mesmos homens anônimas com chapéu-côco, obstruindo hermeticamente a vista para fora da janela, dando uma impressão assustadora, apesar da passividade estampada no rostos.





















(The Son of Man, 1926)
É um dos quadros mais famosos de Magritte. Ele define-o desta forma: "Tudo o que vemos esconde outra coisa, e nós queremos sempre ver o que está escondido pelo que vemos.

"My painting is visible images which conceal nothing; they evoke mystery and, indeed, when one sees one of my pictures, one asks oneself this simple question 'What does that mean'? It does not mean anything, because mystery means nothing either, it is unknowable."



(Decalcomania - 1966)

A silhueta da esquerda parece ter sido recortada das pregas da cortina.
(de novo, o homem com o chapéu-côco)



(O Mestre da escola)


Voce pode ver mais sobre Magrite clicando aqui










quinta-feira, 13 de setembro de 2007

à propósito do poderio dos Guggenheim

É a chamada do texto de Osmar Freitas Jr. na revista ISTOÉ, de 23/7/2003, quando após 13 anos, o Museu Guggenheim resolve mostrar ao público que o visita em Nova York, um mural de azulejos feito por Juan Miró em 1967 chamado ALICE, especialmente criado para o museu. Encravada na parede do salão de entrada, o mural estava escondido atrás de um tapume de madeira. Quem tem poder faz destas coisas: se dá a luxos inconcebíveis pois é uma das entidades mais ricas entre as que acolhem a arte dos séculos XX e XXI. Com um acervo tão plural e com tanta qualidade tem condições de criar exposições sobre qualquer tema. E foi numa destas que os poderosos do Guggenheim resolveram mostrar o tesouro escondido. Aproveitando uma mostra que se chamou De Picasso a Pollock - um tour pelos grandes momentos do cubismo ao expressionismo abstrato, cobrindo o período que vai de 1910 a 1960, o impressionante mural de azulejos finalmente foi revelado.
O trabalho, embutido na base das 5 rampas que circundas o prédio internamente, foi uma das últimas criações de Miró, encomendado por Thomas Messer, então presidente da Fundação Solomon R. Guggenheim, como uma homenagem póstuma a Alicia Patterson, mulher de Harry Guggenheim.
Foi executado entre 1965-1967, tem cerca de 7 metros de largura com 190 plaquetas de cerâmica moldadas por um ceramista espanhol - amigo de Miró - chamado Josep Llorens.
É uma peça absolutamente característica de Miró, que criou uma cosmologia de seus próprios símbolos-cores - um fundo cinza, que adquire tonalidades prateadas conforme a incidência da luz, com taços e pontos emblemáticos em amarelo, preto, vermelho e azul. No meio foi grafado o nome Alice.
Houve quem reclamasse da grafia do nome da homenageada. Pediram revisão. Teimoso, Miró rebateu dizendo que havia feito uma "interpretação livre" e recusou-se a correção. Foi preciso muita lábia de Messer para convencer Miró mudar o original. Miró, então, elaborou o painel da seguinte maneira: dependendo do lado que se olha, pode-se tanto ler Alice quanto Alicia.
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